Boca do Acre entra em situação de emergência por causa da cheia
Para pesquisadores, o aquecimento global e o desmatamento foram fatores que influenciaram nas inundações que Boca do Acre e o estado do Acre vivem
Boca do Acre (AM) - O município de Boca do Acre (distante 1.028 quilômetros de Manaus), que está na fronteira do estado do Acre, entrou em situação de emergência nesta segunda (22) em razão da cheia dos rios Acre e Purus que inundou pelo menos 11 bairros. O decreto que consolida esse ato foi publicado no dia 20, no diário oficial do município e autoriza a mobilização de órgãos municipais para atuarem em ações de resposta ao desastre natural.
A promotoria de Boca do Acre ainda instaurou um procedimento administrativo com a finalidade de acompanhar e fiscalizar as ações do Poder Público no que tange à cheia dos Rios Purus e Acre. “Se trata de um procedimento extrajudicial. Este apenas oficializa que o MP está acompanhando as medidas do poder público. Não é processo, não é denúncia, não é investigação, sequer é processo judicial”, informou a assessoria do Ministério Público do Amazonas, em nota ao Em Tempo
A enchente afetou em torno de 6 mil famílias em Boca do Acre, de acordo com a Defesa Civil. Nos municípios do estado do Acre a situação é ainda pior. Solange Albuquerque, dona de casa, teve sua casa atingida pela enchente. “A água já chegou no assoalho, mas na casa da minha filha foi ainda pior, atingiu móveis, colchão”.

Na fronteira do Acre com o Amazonas, donos de fazenda viram como dá. “Perdi plantações, tive que levar o meu gado para outro lugar. Eu cheguei de Sena Madureira a alguns dias onde a situação é pior. Quando cheguei no meu sítio foi um baque”, contou Ermernergildo Albuquerque, fazendeiro que vive em um sítio entre Sena Madureira/Acre e Boca do Acre.
Motivos da enchente
Para o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Philip Fearnside, a enchente dos rios piorou devido à influência do homem na natureza. “O aquecimento global e o desmatamento na Amazônia aumentaram um processo natural e causaram inundações. O solo fica segurando a água. A esse processo se dá o nome de 'histerese”.

Para o ambientalista e geógrafo Carlos Durigan há também outros fatores. “O aumento populacional e a presença de cada vez mais pessoas nas calhas do rio Purus agrava ainda mais a situação. Tudo isso junto com o aquecimento global e os desmatamentos fazem com que as secas sejam ainda mais graves e a cheia dos rios seja ainda mais alta”.
Demais municípios
O biólogo e pesquisador Daniel Tregdigo esteve recentemente em Canutama, município localizado a 864 quilômetros de Manaus, no Sul do Amazonas. “A cidade de Canutama já está inundada. Outros municípios localizados próximos ao rio Purus também tendem a inundar. Estamos escutando histórias de inundações que estão piorando em muitos lugares”, afirma o pesquisador. Para ele, Lábrea também pode ser atingida em breve. “Não só Lábrea mas muitas cidades ao redor da bacia amazônica”.

Acre enfrenta crise com pelo menos 10 cidades alagadas
No Norte do país, o estado do Acre enfrenta uma crise sem precedentes. Pelo menos dez cidades estão alagadas pela cheia dos rios, afetando quase 120 mil pessoas.
O Acre também sofre com um surto de dengue, um conflito migratório na fronteira com o Peru e a falta de leitos para pacientes com Covid. Voluntários, artistas e empresários estão se mobilizando para ajudar o estado.
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