Escritora amazonense Myriam Scotti lança o livro ‘Mulheres Chovem’
O livro da escritora amazonense reúne 58 poemas e foi lançado em comemoração ao Dia do Poeta, celebrado neste domingo (4)

Manaus – “Como a chuva que cai p’ra limpar nuvens carregadas que se espremem. Tantas mulheres chovem p’ra vazar o que um coração quebrado sente’’. Esse é o trecho do poema dá o título ao livro “Mulheres Chovem’’, que retrata com fidelidade o universo feminino e a multiplicidade que o envolve.
“Palavras não escritas sufocam”. Foi o que declarou a escritora amazonense Myriam Scotti nas primeiras páginas do lançamento. E, para não sufocar, ela escreveu as 58 poesias que recheiam a obra, lançada em homenagem ao Dia do Poeta, celebrado neste domingo, 4 de outubro.
Entre os versos que representam a singularidade de cada mulher, Myriam relata a transformação da sensibilidade em força e poder. É assim que a escritora empodera a sensibilidade, vista por tantos como algo negativo.
Abraçando o encantamento típico de toda boa poesia, as passagens falam sobre a essência feminina, particularidades, dores, alegrias e lutas do cotidiano.

“Nunca foi tão necessário falar sobre a questão de gênero. Ainda faltam muitos degraus para alcançarmos a paridade desejada, mas acredito que temos avançado bastante’’, afirmou Myriam em entrevista ao EM TEMPO, realçando um tema recorrente nas suas obras recheadas de personagens femininas fortes.
Outro ponto que a escritora ressaltou foi a importância da participação feminina na literatura. Entre os livros feitos por mulheres, para mulheres e a respeito das mulheres, muito se lê sobre a visão masculina do gênero. Dar voz às donas desses pensamentos é algo que deve ser, cada vez mais, celebrado, de acordo com Myriam.
“Na literatura, por exemplo, os movimentos para que sejam lidas mais e mais mulheres têm trazido um público leitor que antes não tínhamos. É um trabalho de formiguinha e, quanto mais nos engajarmos, mais representatividade teremos’’, ressaltou a escritora.

Literatura
“Urgência”, “Desculpe-me”, “Segunda-feira”, “Amor embalado” e “Amor materno” são alguns exemplos dos títulos das poesias de Myriam. Cada palavra-chave dá o tom da produção: vezes mais delicadas e profundas, outras mais ásperas e pulsantes, mas sempre reais.
Se aventurando também pelo romance e pela literatura infanto-juvenil, a escritora tem contos e livros publicados. Boa parte deles compostos por mulheres que lutam pelo seu espaço.
Com a literatura infanto-juvenil, Myriam estreou o primeiro livro. Das vivências com o filho, surgiram crônicas e histórias infantis, como “O menino que só queria comer tomate” e “O menino que não queria dormir sozinho’’.
Apesar dos altos e baixos que a literatura no Brasil percorre, a escritora enxerga a leitura como algo a ser incentivado e que necessita ser mais reconhecido.
“Ainda acredito que a literatura salva. E acho que o momento é propício para reconquistarmos o prazer de ler. A pandemia e o isolamento trouxeram muitas reflexões e redescobrir a leitura foi uma delas para muitas pessoas’’, ponderou.

Em meio aos avanços tecnológicos, Myriam destacou ainda que os novos artifícios devem ser utilizados com sabedoria, principalmente dentro de casa, sem esquecer a importância da leitura.
“Embora não seja fácil competir com a tecnologia, não podemos desistir, e, para tanto, os pais precisam incentivar dentro de casa, inclusive sendo exemplos, de modo a deixar mais o celular de lado para carregarem mais livros nas mãos’’, explicou a escritora.
A escrita para o público infantil é um dos focos de Myriam. Apesar de trabalhar também para o público adulto, a escritora relembrou o importante papel nesses gêneros.
“Escrever para o público infantil requer mais cuidado na escolha de temas e vocabulário. A responsabilidade é enorme. Não posso escrever tudo o que penso ou como quero. Há a preocupação em como minha história será absorvida. Para o público adulto, posso soltar mais a caneta, abordar assuntos indigestos sem medo. Há mais liberdade de escrita’’, evidenciou.

Sobre a escritora
Myriam Scotti nasceu em Manaus, em 1981. Formou-se em direito pela Universidade Federal do Amazonas e exerceu a advocacia até o nascimento de seu primogênito, quando resolveu dedicar-se totalmente à escrita e publicar seus primeiros livros do gênero infanto-juvenil.
Em 2012, abriu um blog para escrever crônicas maternas. Em 2015, depois de ter o caçula, decidiu dedicar-se à escrita profissional, e em 2016 começou a participar de várias oficinas de escrita criativa e de poesia.
A partir disso, muitos livros surgiram, além da dedicação em percorrer escolas fazendo contação de histórias para os pequenos e falando sobre literatura para os alunos mais velhos.
Uma dica que a escritora dá para os futuros escritos e para as pessoas que pensam em mergulhar na literatura, é sempre se aperfeiçoar.

“Leiam os clássicos, o máximo que puderem. Procurem as oficinas de criação para treinar outras formas de escrever e para formar um grupo de pessoas que esteja sempre aberto a compartilhar as angústias e as alegrias de ser escritor. É preciso se desafiar sempre e não se acomodar. Hoje, a gente sabe menos que amanhã’’, finalizou.
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