Os pais sempre sabem de tudo, pena que aprendemos tarde
Meu pai não me cobrava amor e sim se fazia respeitar. Se você analisar bem faz todo o sentido do mundo. Quando você é criança, você é extremamente egoísta, na adolescência dramático e muitos, depois de adultos, demoram ou nunca amadurecem.

Numa sexta-feira dessas da vida, saí do trabalho e fui tomar um suco de cevada, afinal sou filho de Deus também. Fui em um dos shoppings da cidade, um em que a praça de alimentação não está abarrotado de pessoas, não curto multidões.
Para minha alegria, havia um som ao vivo, por sorte nada de vermífugo e sim um som sofrência. Sexta-feira, uma gelada, sozinho, salário atrasado, tudo fluía para um happy hour agradável, pensei.

Então estava curtindo um Pablo e afins quando recebo uma mensagem do departamento comercial da empresa. Teria que validar a campanha de um anunciante, então iria tomar mais uma e depois iria pra casa para resolver esse job.
Tocava mais uma, R$ 50 reais, aquela sequência básica: relativa, quarta, primeira e quinta, sempre eficiente. Já viajava quando alguém me toca o ombro, olho para trás e em princípio não reconheci a figura, mas para meu espanto era a garotinha ruiva ... brincadeira, era um amigo de longa data.
Convidei-o para sentar e começamos a colocar as fofocas em dia. Ele me contou que não morava mais no Brasil, residia na Bélgica, era professor de música e que havia retornado às pressas, pois seu pai havia falecido.
Deveria passar os ritos funerários e depois retornar.
Em um passado remoto tocamos juntos, ele bateria e eu contra-baixo, mas logo após eu entrar na faculdade, deixei a vida de músico para dedicar-me ao curso e ele continuou tocando na noite.
Trocamos contatos e uma promessa de visitá-lo um dia, uma vez que já morei na Europa também e pretendo retornar em um futuro não muito distante.
Meu pai também já é falecido e, embora cada caso seja um caso, você acaba sendo bem empático com a situação, pois tive uma experiência parecida.
Lembrei-me então de meu pai... O pai na vida de um homem é a sua referência maior, seu norte. É para o pai que você busca fazer as melhores coisas, fazer o certo, o direito e, é para o pai que você torna-se um Homem.
Aprendi com ele valores como: respeito, compaixão, hombridade, honestidade e retidão.
Sou de uma geração onde o pai não buscava o amor dos filhos como os atuais pais fazem. Ele impunha respeito, bastava um olhar para se recuar e obedecer.
Recebia incontáveis nãos até receber um sim, isso sem falar que ele não era muito dado à conversa, pelo menos quando eu era criança, depois que cresci, tivemos muitas e boas conversas.
Mesmo assim, na minha infância, sentia-me muito feliz em tê-lo por perto.
Pondo-me a frente do espelho, julgo que a forma como fui criado, embora pareça medieval, comparada aos dias atuais, foi, dentro da pouca formação de meus pais, muito inteligente e sensata.
Meu pai não me cobrava amor e sim se fazia respeitar. Se você analisar bem faz todo o sentido do mundo. Quando você é criança, você é extremamente egoísta, na adolescência dramático e muitos, depois de adultos, demoram ou nunca amadurecem.
Ou seja a criança e o adolescente não sabem o que é amar porque elas não tem maturidade suficiente para entender o amor, logo, você aprende a amar seus pais, quando torna-se minimamente adulto.
O lamentável disso tudo é que muitas das vezes você perde seus pais antes de amadurecer o suficiente. Com isso não consegue aproveitar a companhia deles. Esse amigo que encontrei, lamentava muito não ter entendido o pai mais cedo.
Mas faz parte do crescimento do ser humano, como disse Rocky Balboa: "Não importa o quanto você bate, mas sim o quanto aguenta apanhar e continuar".
Tomei o último gole da cevada e segui para casa pra finalizar o job. Aproveitei e fui conversando com meu velho sobre como a Seleção Brasileira está ruim.
* Gabriel Magalhães é colaborador do Portal EM TEMPO e escreve sempre às quintas para a seção "Entre Elas - Encontros e Desencontros".
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