Cemitério: desenterrando as histórias de quem já morreu em Parintins
Lugar que muita gente evita, mas é rico em histórias da Ilha Tupinambarana

Parintins - Na época do Festival Folclórico de Parintins é bem comum as pessoas visitarem os lugares históricos da cidade, mas um lugar que muitos evitam é o cemitério. Uma coisa que poucos sabem é que todas as sepulturas possuem um toque artístico no único cemitério que existe em Parintins.

Os Parintinenses são reconhecidos pelas homenagens dadas aos mortos na hora da despedida. Conheça os túmulos do Cemitério Municipal São José que contam muito de quem se foi e deixou um legado na cidade.
O criador do boi garantido

No mausoléu estão enterrados o pai e os dois filhos. Conhecido como criador do boi da baixa do São José, Lindolfo Monteverde tem o rosto esculpido em uma estátua dourada próximo à entrada do único cemitério que existe na cidade.

Um dos filhos de Lindolfo, chamado de Porrotó era conhecido por tocar um instrumento de sua criação e autoria, morreu vítima de câncer e foi enterrado junto ao pai.
Taxista com túmulo de roda e desenho de pista

Um dos mais curiosos dentro do cemitério é de Riovaldo Souza, conhecido como Rui careca, um famoso taxista da cidade.

No túmulo há um pneu de carro indicando o lugar, uma pista de corrida desenhada em cima do túmulo e uma placa de estacionar escrita "estacionamento eterno."
Decorada para sempre

O túmulo de Ana Karolyne é um dos mais decorados. O coveiro conta que todas as semanas a mãe vem ao local e enfeita com flores e brinquedos o túmulo da pequena "florzinha".

Os anjinhos do cemitério

O anjo que segura uma criança recém-nascida é um dos que mais chamam a atenção no cemitério. As pequenas marcações no solo geralmente têm esculturas de anjos próximo ou são desenhadas nos túmulos.
Se uma criança morre em Parintins é chamada carinhosamente de "anjinho".
O maior ginecologista de Parintins

Audrin Verçosa Dias faleceu no ano de 2009, foi um médico obstetra e ginecologista, viu muitas crianças nascerem. Moradores do lugar contam que Audrin era muito requisitado, as mulheres chegavam a brigar por uma consulta com o médico.
No túmulo do médico há diversas homenagens das mamães e pacientes de Parintins.
Os padres que trabalharam na cidade

A cidade é religiosa, seus festejos estão voltados para a santa padroeira da cidade.
Os padres que foram enviados para cumprir a missão na Amazônia tiveram grande participação no desenvolvimento da cidade. Construíram escolas, rádios, igrejas e ensinaram na educação básica.

Todos eles que morreram em Parintins tem um mausoléu especial, seus nomes e fotos fazem justiça a grande contribuição das missões em solo parintinense.
O túmulo das mãos juntas

Quem está enterrado nesse mausoléu misturado com obra de arte são os filhos de Dodó Carvalho, um dos empresários mais ricos da região, trabalhava com transporte na região.
O mais curioso da história dos filhos do empresário é que ao completar um ano de morte de um filho, o outro morre na mesma data e assim foram os três, em sequência. O túmulo da família é um dos mas visitados.
O crime do Areal
Um dos crimes mais bárbaros já visto pelo povo Parintinense, o crime do Areal, como ficou conhecido tem o nome escrito na lápide de Augusto Ferreira Carvalho. O jovem foi brutalmente torturado e assassinado por policiais em uma região distante da cidade conhecida como areal.

Augusto veio de Belém do Pará e segundo contam os historiadores, recebeu uma encomenda e trouxe para Parintins. No meio do caminho descobriu que se tratava de drogas e resolveu jogar fora ao invés de entregar para a polícia.

Ao saberem do paradeiro do jovem, os policiais o levaram para o Areal e o torturavam com alicates, arrancaram dedos, unhas e o órgão genital do rapaz.
Segundo as testemunhas do caso, os gritos de Augusto podia se ouvir de longe, mas por se tratar de policiais resolveram não intervir para socorrê-lo.

Os policiais acusados foram presos, mas logo foram soltos por falta de provas que constatassem a atuação no crime.
A namorada que depôs contra os policiais se tornou a principal testemunha e foi presa após não conseguir provar o que estava fazendo no Areal na hora do crime, sendo que Augusto foi levado escondido pelos policiais para ser torturado.
As irmãs do "bigode"

Outro crime bárbaro em Parintins foi o assassinato das irmãs do "bigode". As duas adolescentes foram mortas de forma brutal e sem piedade pelo irmão que tinha problemas com drogas.
Segundo os moradores do lugar as histórias que contam é que o "bigode" tentou estuprar as duas irmãs. Ao correrem pelo terreno da casa da família não viram a cerca de arame farpado e ao baterem de frente ficaram presas.
O irmão transtornado e furioso por não conseguir o que queria esfaqueou ali as duas irmãs que não conseguiam se desprender dos arames. Bigode foi preso e passou mais de 20 anos na cadeia, o turismólogo conta que ele está vivo e hoje é comerciante de um bairro distante no centro de Parintins.
Por ser muito antigo e a falta do cuidado da família, no túmulo não há os nomes das irmãs brutalmente assassinadas.
Os túmulos que lembram a catedral de Parintins

Um fato curioso é dos túmulos fazerem referência à catedral de Nossa Senhora do Carmo. Quando a pessoa era muito religiosa e participava das procissões e movimentos religiosos do lugar, fazia questão que no seu lugar de descanso tivesse a catedral como parte artística.

O guardião das chaves dos túmulos

O coveiro José Antônio Cavalcante, 61, trabalha no cemitério há 32 anos, homem simples que vive dos enterros e dos cuidados com os túmulos.
Ao chegarmos no cemitério, nos deparamos com os portões fechados. Antônio ao ver a movimentação e saber do que se tratava fez questão de acompanhar e contar as histórias do lugar.

Começou a trabalhar como coveiro do cemitério quando recebeu o convite do amigo e até hoje não quer trocar de profissão. Cavar, lavar e cuidar da segurança é alguma das tarefas do homem que trabalha com a morte, Antônio é daqueles que carregam a chave de mais de 30 túmulos.

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