'É importante que o eleitor seja criterioso', diz Helso Ribeiro
O especialista afirmou que, em um eventual cenário de segundo turno, os índices de rejeição podem influenciar no resultado destas eleições

Manaus - Helso Ribeiro é advogado, professor e cientista político em Manaus. Participou de grêmios estudantis e reinvindicações escolares e, posteriormente, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), esteve à frente de diversas mobilizações políticas, inclusive pelo término da ditadura militar. E desenvolveu o interesse pela política durante a adolescência, no entanto o tema já era presente em sua vida desde a infância.
Ao analisar o cenário das eleições deste ano, há sete dias da votação, o especialista afirmou que é possível uma reviravolta entre os quatro principais candidatos que encabeçam as pesquisas e que, pelo menos na atual conjuntura, é difícil um candidato inexperiente ter algum tipo de ascensão. Além disso, Helso também explicou que em um possível segundo turno é necessário que os candidatos se articulem, desde cedo, para conseguir alianças e conquistar o eleitorado, especialmente com um período mais curto disponível.
EM TEMPO: Iniciamos a campanha com um eleitorado apático. Esse cenário mudou até o momento?
Helso Ribeiro: Ainda que as eleições locais acabem envolvendo um número maior de pessoas, porque são muitos candidatos que estão próximos do eleitor, a democracia representativa vem sofrendo um desgaste não só em Manaus, como no mundo inteiro, nos últimos anos. Isso gera a apatia de boa parte do eleitorado. Esse cenário só muda quando há algo muito impactante, como não houve, acrescido à questão da pandemia que impôs o isolamento, as eleições deste ano não tiveram nada gritante que envolvesse ou empolgasse boa parte do eleitorado.
EM TEMPO: Durante esse período muitos candidatos apresentaram novas propostas parecidas, à sequência um do outro. Isso pode ter despertado o desgosto do eleitor?
Helso Ribeiro: O descrédito é grande, se pegarmos as plataformas de governo veremos que são parecidas. O eleitor vê, na melhor das boas vontades, uma utopia de um determinado partido ou candidato às vezes está muito distante de uma realidade. Isso gera um desgosto no eleitor e ele vê que ás vezes são promessas meramente eleitoreiras, o que, conforme dito anteriormente, gera o desgaste da democracia.
EM TEMPO: Em um eventual cenário de segundo turno entre Amazonino Mendes e David Almeida, é possível afirmar quem irá ganhar?
Helso Ribeiro: Em um possível cenário entre Amazonino e David Almeida entendo que será uma nova eleição. Caberá aos dois, de forma muito rápida, no dia da eleição e até antes, sei que já estão fazendo isso, que é procurar alianças. A diferença, nesse ano, entre o primeiro e segundo turno será menor. É uma nova eleição, tudo pode acontecer, teremos que analisar o cenário do dia 15 a noite e como serão as articulações que eles irão fazer. É importante nós pegarmos as pesquisas e verificarmos a rejeição de candidatos, isso tem direcionamento importante para o segundo turno. Tem candidatos que tem forte rejeição, como o ex-prefeito Amazonino Mendes, e para diminuir isso em um curto espaço de tempo não será impossível, mas trabalhoso. Já David Almeida, a rejeição é bem menor, isso direciona em uma possibilidade de adesões.
Nenhum dos 11 candidatos pode ser considerado imbatível "
Helso Ribeiro,, advogado e cientista político
EM TEMPO: Ainda nesse momento, há uma semana do dia da votação, há alguma possibilidade de reviravolta?
Helso Ribeiro: Acredito que é possível. Há uma certa dúvida em relação ao crescimento do Ricardo Nicolau e do José Ricardo. Tudo é possível nesse meio. Mas vamos colocar o pé no chão, candidatos que estão lá na "rabeta" das pesquisas, tirando os quatro primeiros, é muito difícil conseguir mudar os resultados atuais, eu diria quase impossível. Ainda assim, acredito que o eleitor que se identifica com todos que não estão pontuando, eu diria que vote nesses candidatos. O primeiro turno é feito para isso, para se identificar ideologicamente com alguém e dar o seu voto, mas em termos de possibilidade de mudança acredito que para esses sete é muito difícil.
EM TEMPO: Veteranos e novatos discutem a questão da experiência durante essa campanha. Essa pode ser caracterizada como uma eleição de “gigantes” ou novatos ainda podem ter destaque?
Helso Ribeiro: Esse desgaste da política junto à população faz com que gere descrenças, então houve esse discurso do 'novo', que não é só brasileiro não. Mundo afora novatos foram guindados a postos-chave, aqui em Manaus tivemos o governador Wilson Lima. Acredito que muito rapidamente a população consegue ver que a política não é algo imediatista, então é necessário sim alguma experiência. Isso não significa que a pessoa tenha que ser um político carreirista, mas é necessário que tenha conhecimento técnico para administrar uma cidade como Manaus, por exemplo. Eu não vejo nessa eleição, nesse atual quadro em Manaus, a possibilidade de um novato ascender à Prefeitura. Quando eu falo novato digo alguém que não tenha participado anteriormente de alguma experiência parlamentar ou no Executivo.

EM TEMPO: Que fator deve-se levar em consideração para escolher um candidato, tanto no primeiro quanto no segundo turno, quando as propostas são tão parecidas?
Helso Ribeiro: Vou citar Thomas Jefferson, um pensador, intelectual, ainda do século 18, que dizia que a democracia tem seus erros, mas quando ela errar a solução seria dar mais educação à população, que melhorariam as escolhas. Isso é que deve pautar a escolha do eleitor, na minha opinião. Quanto mais ele estudar, se intrometer na política, mais ele vai conseguir separar figuras e partidos. Cabe ao eleitor, e aí é um trabalho de cidadania, investigar qual o partido, ás vezes essas pessoas têm discursos que contrapõem a ideologia partidária, qual o histórico daquele candidato, e eu entendo que no sistema brasileiro majoritário é fundamental a ideia de ideologizar a escolha do primeiro turno. Se o sujeito é ambientalista, vote em um candidato que defenda isso, se é capitalista, vote em um candidato que defenda isso. Sou meio refratário à tentativa de voto útil, mas acho que nesse primeiro momento é importante o eleitor ser criterioso, tem que pesquisar o histórico, se tiver afinidade ideológica já facilita.
As eleições deste ano não tiveram nada gritante que envolvesse ou empolgasse boa parte do eleitorado "
Helso Ribeiro,, advogado e cientista político
EM TEMPO: Amazonino está em primeiro lugar nas pesquisas, ele pode ser visto como imbatível ou ainda pode perder força como em eleições anteriores?
Helso Ribeiro: Diria que não se pode negar a força que ele tem, foi governador, três vezes prefeito, senador, mas imbatível acho que está distante de ser. Ele que tem a maior rejeição, junto com Alfredo Nascimento, e em um primeiro momento está fugindo de debates, acho que isso sofrerá uma cobrança no segundo turno também. Salientando o que já foi respondido anteriormente o segundo turno é uma nova eleição, claro que tem um lastro do primeiro turno, isso é evidente, mas acho que não tem nenhum dos 11 candidatos que se possa dizer que seja imbatível.
EM TEMPO: A preferência do eleitorado mais velho tende a ser diferente dos mais jovens?
Helso Ribeiro: Se nós quisermos dividir apenas entre velhos e jovens fica algo muito generalista. O eleitorado, tanto o de mais idade quanto o mais novo, é heterogêneo, tem gosto para todos os lados. Tem pessoas de bastante idade que tem ideias novas e tem pessoas muito novas que tem ideias velhas. As pesquisas que são desenvolvidas de forma séria marcam a preferência do eleitorado por faixa de idade e corroboram essa minha afirmação, que há essa heterogeneidade. Vamos ver como esse eleitorado vai se comportar. A pessoa mais nova ás vezes quer, talvez, mudanças mais radicais. Isso de forma genérica, claro que há algumas particularidades que fogem a essa regra.
EM TEMPO: Qual perfil de prefeito poderia conquistar o eleitorado diante do atual cenário político?
Helso Ribeiro: O eleitorado tem um perfil múltiplo, são pessoas de vários perfis, então é difícil etiquetar apenas um perfil para prefeito. Acredito que boa parte da população, portanto dos eleitores, até mesmo quem não é eleitor, gostaria de um governante sério, que conseguisse minimizar as agruras da cidade, que são muitas. Manaus é uma cidade-estado, a única capital grande do país que tem mais da metade da população do estado, e nós sabemos que não existe milagre na política. O prefeito que for eleito terá um trabalho árduo. Penso que parte da população gostaria de ver obras que foram iniciadas, sendo tocadas, porque é um desgaste muito grande do dinheiro público. O que chega [prefeito] ás vezes quer encobrir o que os anteriores fizeram e acabam deixando para trás obras inacabadas.
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