Vereadores de Manaus ‘custam’ R$ 46 milhões ao ano
Enquete feita pelo Portal EM TEMPO, onde mais de mil pessoas, mostra que 87% dos manauaras não conhecem mais do que 10 parlamentares. Muitos dos entrevistados destacaram não conhecer nenhum

Manaus - Escolhidos pelo voto popular a cada quatro anos, os
vereadores têm como função legislar e fiscalizar o Poder Executivo Municipal.
No entanto, poucas pessoas conhecem os 41 nomes que compõem a atual
legislatura, bem como sua atuação dentro e fora da Câmara Municipal de Manaus
(CMM), e que custam ao bolso do contribuinte manauara pelo menos R$46 milhões
por ano.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Portal EM TEMPO,
87% disse saber o nome de, no mínimo, 10 parlamentares. Outros 13% afirmaram
ter conhecimento de mais de dez nomes. Pelo menos mil pessoas participaram da
pesquisa realizada entre os dias 11 e 12 de junho deste ano.
Parte desse desconhecimento pode ser justificado pela mudança de perfil sofrido pela casa legislativa nos últimos anos, como afirma o cientista político Carlos Santiago. Para ele, o eleitor não esquece em quem votou, mas houve uma segmentação dentro do parlamento que contribuiu para que esses nomes passem despercebido para eles.

Nos últimos 20 anos, o número de vereadores na CMM aumentou. Hoje, são 41 parlamentares. Há 20 anos, o perfil desses parlamentares era diferente dos parlamentares de hoje. Maioria estava ligada à discussão de temas que pensavam a cidade. Hoje, o perfil é do bairro, de uma instituição ou categoria. Houve uma segmentação dessa representação e os parlamentares estão interessados em discutir temas localizados. Isso dificulta o conhecimento geral de quem são os vereadores, apesar da importância que possuem. "
,
O cientista também afirma que uma das formas de mudar esses números é promover o voto consciente, onde o eleitor tem clareza sobre as atribuições de um governante, além de conhecer o grupo político do qual faz parte.
“É importante conhecer o candidato, votar pensando no
coletivo, sabendo que a função de um vereador não é tapar buracos ou promover
mutirões. Um legislador que promete limpeza, por exemplo, está enganando. Antes
tínhamos uma Câmara com debates e visões amplas, perfis que hoje são pouco
vistos”, diz.
Com salários mensais de R$15 mil, um dos principais comentários na pesquisa dizia que os parlamentares exercem seus mandatos com dinheiro público, mas poucos são vistos nas ruas prestando contas ou conversando com a população, especialmente após o período eleitoral, quando já foram eleitos.
Cota
Além do salário, cada um dos 41 vereadores recebe, mensalmente, a Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (Ceap) no valor de R$18 mil. O recurso custeia os gastos exclusivamente vinculados ao exercício da atividade parlamentar e é cumulativo, ou seja, o valor restante do mês anterior é somado ao valor do próximo mês. Os vereadores têm à disposição, ainda, R$60 mil de verba de gabinete, além de poderem empregar de 20 a 40 assessores.
Acompanhamento de propostas
Para o empresário Raimundo Ferreira, saber que parte do
dinheiro pago em impostos pelos cidadãos é usado para manter esses mandatos
deveria ser o suficiente para que todos conhecessem pelo menos metade do
parlamento e acompanhasse de perto o que acontece na Câmara.
Aos 71 anos, ele acompanha as propostas da casa legislativa pelas redes sociais e apesar de não conhecer todos os parlamentares, admite que sente falta do “corpo a corpo” de antigamente. “Vejo pessoas reclamando do dinheiro que os vereadores ganham, mas muitas não sabem qual é o trabalho deles. Até alguns anos atrás, era comum existir contato entre político e população e hoje vejo como isso diminuiu. Acredito que deve haver interesse da nossa parte, enquanto contribuintes e eleitores, em buscar informações e entender como tudo funciona para, assim, sabermos o que estamos cobrando e como podemos cobrar deles”, afirma.
Sassá da construção
Um dos nomes mais citados na pesquisa foi o do vereador
Sassá da Construção Civil (PT). De origem sindicalista, ele foi considerado um
dos mais atuantes por quem conhece os parlamentares da atual legislatura.
Semanalmente, de segunda à sexta-feira, ele realiza visitas e reuniões com
trabalhadores da construção civil e comunidades, onde recebe demandas e faz a
prestação de contas do mandato.
“É importante mostrar nosso trabalho à sociedade de forma
clara e transparente, se está errado é nosso dever cobrar e se está certo vou
elogiar. Afinal, minha bandeira é o povo. Eu quero que a população cobre mais
empenho do candidatado em quem votou e que cobre trabalho de quem não está
trabalhando. A população merece ser respeitada e tem a obrigação de acompanhar
nossa atuação”, destaca.
Para o vereador, não basta apenas utilizar a infraestrutura da CMM; é preciso que os parlamentares estejam nas ruas conversando e ouvindo a população, além de incentivar a sociedade a participar das audiências públicas da Casa.
Chico Preto
Conhecido por seu posicionamento crítico em relação à prefeitura de Manaus, o vereador Chico Preto também foi citado na enquete como um dos nomes mais conhecidos e atuantes da CMM. Combinando visitas in loco e uso das redes sociais para prestação de contas semanalmente, ele acredita que ter contato com a população é essencial para a transparência do mandato.
“O contato pessoal é fundamental porque é nesse momento que se percebe detalhes importantes do caráter do político. É importante que a CMM mantenha essa proximidade com transparência e independência de suas ações, que vá ao encontro das pessoas, dialogando e explicando o verdadeiro papel do vereador”, afirma.
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